sábado, 21 de agosto de 2010

Quem será Dilma?

De Fernando de Barros e Silva:

Na definição de um observador agudo da vida brasileira, Dilma Rousseff parece uma líder estudantil preocupada o tempo todo em disfarçar que é de esquerda. De certa forma, tudo nela virou disfarce. Sua propaganda transforma o país em cidade cenográfica, onde se desenrola, em película, o enredo apoteótico do lulismo. A política se dilui numa espécie de comunhão familiar, na qual Dilma ora é a mãe, ora é a mulher, ora é a herdeira de Lula ou do Brasil. Não há eleição sem teatro, sabemos disso, mas as personas políticas de Serra e de Marina não parecem ser anteriores às suas identidades. De Dilma seria mais difícil dizer o mesmo. Sob a figura enigmática da candidata replicante, há uma questão de fundo: Dilma suscita expectativas de setores do PT e temores de parte da oposição pela mesma razão. A saber: que venha a fazer um governo claramente orientado à esquerda. Caberá à história, quem sabe, decifrar essa esfinge.

E de Eliane Cantanhêde:

Quanto mais Dilma cresce e se aproxima da vitória no primeiro turno, mais dúvidas surgem sobre seu eventual governo. Sabe-se muito pouco de Dilma Rousseff. Ela virou a ministra-forte e evoluiu para ser candidata por instinto e capricho de Lula. Rejuvenesceu, coloriu os cabelos, maquiou o rosto, trocou o guarda-roupa. Foi treinada, enfrentou bem entrevistas ao vivo e debates. Mas o que está por baixo de tudo isso? Cabe perguntar o que vem por aí caso Dilma seja a primeira mulher a subir a rampa do Planalto. Não dá para apostar como será Dilma ao trocar o personagem de candidata pelo de "mãe dos brasileiros". Simplesmente porque não se sabe quem é Dilma.

Escrito por Nelson de Sá (Folha de São Paulo)

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